quinta-feira, dezembro 29, 2005

começa em ti ...


começa em ti, tudo o que se sente
como o aroma de mar sem fim
numa ausência que não é indiferente
no sol que vem de ti e se liga a mim

apoio-me taciturna nas palavras
num reunir obscuro de desejos
vacilando nua, em marés passadas
confusa, ávida de sabores e medos

desfaz-se o sonho começado em ti
transformo as razões, em riscos
nas mãos, desfaz-se o que senti
na voragem de leves sorrisos

começa em ti, tudo o que se sente
o aroma, o mar, a ausência do fim
memória mágica e dormente
da noite que corrói e vagueia em mim

e acaba em mim...

l.maltez

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Instantes


olhar
por um caminho único
os estragos amenos
da sede dos rostos,
da fome dos corpos
olhar o instante
que atravessa o crepúsculo,
passo a passo

os olhos jazem
sem peso ou espaço,
sem qualquer razão
nem vestígio de tempo,
só nostalgia
a vaguear em ondas

a vista diz um nome
perpassa a palavra viva,
entre silêncios densos,
e acaba por amarar
onde o desejo acorda
leve e cúmplice
como um suspiro

olhar... único, o meu
um norte
um anseio terminal
abarcar o teu!


l.maltez

neste instante que as horas se aproximam a passos largos deixo-vos o meu desejo de um Feliz Natal a todos
“Leio o teu nome
Na página da noite:
Menino Deus ...”
...
Miguel Torga

sexta-feira, dezembro 16, 2005

por isso te quero muito...



cruzei-me, nas palavras
da outra voz que fala
de promessas intensas,
cruzei-me, nos passos
dividida entre impulsos
de transparentes desejos,

nas noites corroídas
inventei-te,
em silêncio sôfrega de emoções,
e envolvi-te
em abraços separados
entre o fulgor do teu olhar

imaginei-te do nada,
entre vozes cantantes
de um inspirado rigor,
imaginei-te dentro delas
entre melodias de Chopin
longe da minha sombra

adormeci
e
descansei o meu corpo no teu


l.maltez

sábado, dezembro 10, 2005

caminho e espero por ti...



caminho!

caminho
e sem destino,
ao longe nada se avista
que busco neste passo lento?
lento, desastrado, mas decidido
onde o silêncio é medonho

caminho
é longo o percurso,
faz frio e o vento é violento
tudo se torna indefinido, confuso
que busco exausta entre penumbras?
procuro um silêncio remexido

cansada de tanto andar,
chego ao fim, para te ver
escuto, olho e em vão te procuro
em silêncio, quero teus passos reconhecer.
vejo-te ou serás uma sombra,
uma sombra que sinto esvaecer

que importa a dor que sinto,
deixa-me assim
chorar, devagarzinho
sofrer a incerteza que pressinto

estou junto a ti, sem o sentires
guardo para mim o lamentar
de não te ver chegar, meu amor


l maltez

domingo, dezembro 04, 2005

dias de espera




faz de conta que o tempo voou. estrangulou o dia, rasgando
caminhos confusos da cidade invisível. depois enrosca-te na
penumbra, afasta as sombras gravadas misteriosamente e entre
insónias de horas perdidas, esquece-me pouco a pouco. desfaz as
memórias e vai secando as ideias, encharcadas do perfume

debruça o olhar no presente, abre a janela e engole as luzes das
noites. saboreia cada sussurro oculto, nas horas que ouves na
grande solidão. adormece na inquietude das paredes brancas,
cheias de falsos sonhos, enquanto fugirei de mim silenciosamente.
desce de novo os teus olhos, ao fascínio ardente da água teimosa,
do mar que nos fez sentir vivos, numa prolongada espera.

é então tempo de caminhar, voar no esquecimento das emoções,
partir sem som.

l.maltez

os silêncios são uma prece…

  os silêncios são uma prece… escuto-os dentro das noites que atravesso! prendo-me ao rumor do vento quero um dia limpo, na vertigem de qua...